"MORDENDO A PRÓPRIA CAUDA
Ontem tive a infelicidade de encontrar um
capataz dos novos tempos. Uma pessoa mais papista que o papa. Um capataz
cujo discurso dizia com todas as
letras: você deve estar grato ao meu patrão por ele lhe dar trabalho.
Registei: olha a mudança dos tempos! Eu a pensar que era o patrão que
devia estar grato por ter alguém a trabalhar tão bem para ele. Mas não: o
trabalho como esmola, o salário como favor. E, de permeio, a
infantilizar o contratado. Ou subcontratado. Qualquer dia já não é
salário, é mesada: «Toma lá e não gastes tudo em pirolitos.»
O que
me chocou (mas não devia chocar) foi a alegria ufana deste capataz. A
brincar aos cães sem saber que está a morder a própria cauda."
Rui Zink
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