quinta-feira, 26 de março de 2015

"MORDENDO A PRÓPRIA CAUDA
Ontem tive a infelicidade de encontrar um capataz dos novos tempos. Uma pessoa mais papista que o papa. Um capataz cujo discurso dizia com todas as letras: você deve estar grato ao meu patrão por ele lhe dar trabalho. Registei: olha a mudança dos tempos! Eu a pensar que era o patrão que devia estar grato por ter alguém a trabalhar tão bem para ele. Mas não: o trabalho como esmola, o salário como favor. E, de permeio, a infantilizar o contratado. Ou subcontratado. Qualquer dia já não é salário, é mesada: «Toma lá e não gastes tudo em pirolitos.»
O que me chocou (mas não devia chocar) foi a alegria ufana deste capataz. A brincar aos cães sem saber que está a morder a própria cauda."


Rui Zink

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